Casos e descasos

Um espaço com críticas e humildes sugestões além de casos, acasos e descasos da vida.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Filmar ou viver: eis a questão


Outro dia, diante de um cenário de natureza virgem e céu farto de tons de vermelho, me flagrei pegando uma câmera fotográfica pra guardar aquela cena deslumbrante. Já com a câmera na mão e apreciando a paisagem através da sua lente vi que eu não precisava dela pra lembrar daquele momento. Ainda se eu viesse a esquecê-lo, aquela foto jamais traria o sentimento sublime de estar sob aquele sol poente e aquele vento fresco que me impregnava de aromas das mais diversas flores e folhas donas daquele lugar há tempos.

Temo por vezes pensar que aquilo que não foi fotografado não foi vivido, não foi gozado, não foi divertido, não foi sentido, não valeu.
Acredito que a nossa vida sempre esteve crivada de pontos de transição pelos quais todos nós passamos, driblando um ou outro talvez. A festa do primeiro aninho, colação de grau do abc, festa de 15 anos, conclusão do colégio, formatura, casamento, e tudo isso entremeado de viagens, primeiro acompanhados dos pais e depois dos amigos, marcando a independência.

Eu também quero passar pelos meus pontos de transição, porém quero aproveitá-los no momento em que eles acontecerem. Não quero passar o dia da minha formatura ou do meu casamento em um salão de beleza e correndo atrás de preparativos que na verdade existem para agradar aos outros ou cair bem na foto. E depois vendo as imagens do álbum ver o que na hora eu não vi.

Não que um dia de salão de beleza não me faça bem e que uma bela festa não possa ser divertida. Mas as vezes acho que as nós deixamos de aproveitar momentos especiais para tirarmos fotos, deixamos de amparar as primeiras quedas dos nosso filhos para filmarmos seus passinhos lindos, deixamos de ver um lindo por do sol para filma-lo e depois montarmos um álbum de coisas que fizeram parte da nossas vidas. Tudo em prol de uma estetização da vida que afinal vai servir para mostrarmos para nossos amigos o que nós apreciamos, como vivemos e como nossa vida é interessante.

Ter um casamento igual ao que foi capa da última revista Caras é mais importante do que viver intensamente com aquela pessoa divertida, carinhosa e um pouco rabugenta que você conheceu no elevador do seu prédio. Até porque não é nada cinematográfico casar com alguém que não tem traços de um ator de Hollywood e que não lutou com vilões psicopatas para ficar com você.

Agora um estilo de vida não é algo natural e irrefletido, seguido pelo coração. São projetos de vida que estão prontos e disponíveis no mercado e que cada vivente pode escolher um de acordo com seu poder aquisitivo. E ele tem que ser divulgado ao menos pela internet, mas se possível pela televisão também. O que não foi filmado ou fotografado não foi vivido.

Vou tentar jogar minha câmera no lixo. Já diria um anjo torto, Não temos tempo a perder.

sábado, 3 de abril de 2010

O país mais feliz do mundo

sex, 26/03/10
por Paulo Nogueira

O autor se refere a um vídeo que não encontrei.Mesmo assim o texto é interessante e é capaz de causar inveja em quem mora em países subdesenvolvidos.

NÃO SEI O GRAU DE precisão, de acurácia dos testes que supostamente determinam as taxas de felicidade dos países. Mesmo assim, com todo o ceticismo que se possa ter sobre o tema: este vídeo impressiona. Especificamente: o que ele mostra sobre como vive um lixeiro na Dinamarca.
Casa boa, inglês bom, vida boa. Modestamente, ele diz que de zero a dez. na escala da felicidade, fica com oito.

Não olha o repórter de baixo para cima, e tampouco é arrogante ou arredio. É um cidadão completamente integrado à sociedade. Não foi barrado na vontade de treinar o time feminino de handebol da escola de suas filhas por ser lixeiro. Recebe em sua jornada bom dia, café e tudo aquilo que faz parte da rotina de profissionais de ramos nobres.

Acabo de voltar de Estolcomo, na Suécia, onde fui com a missão de decifrar o fenômeno Stieg Larsson, o autor da Trilogia Millenium. Nos países nórdicos, como a Suécia e a Dinamarca, vigora uma cultura igualitária. Como diz o cientista social no vídeo, ninguém é melhor que ninguém, a despeito da fortuna de cada um, ou da inteligência, ou do que for.

Não são países desenvolvidos apenas socialmente. Um estudo do Fórum Econômico Mundial, divulgado esta semana, mostrou mais uma vez um notável domínio nórdico na lista dos países mais avançados em tecnologia de informação. O primeiro e o terceiro lugares são a Suécia e a Dinamarca. Entre os países emergentes, a China e a Índia conquistaram posições em relação ao ano anterior. O Brasil ficou parado na 61.a colocação. É uma lista que se deve olhar porque revela o capital humano das nações.

Não estamos bem.

O jeito de ser nórdico deve muito a um pensador extraordinário, o sueco Gunnar Myrdal (1898-1987). Nobel de Economia em 1974, Myrdal nos a nos 40 teve uma influência comparável à de John Maynard Keynes na defesa de um capitalismo no qual o mercado não fosse visto como um deus que corrigiria todos os problemas automaticamente e, portanto, estava acima do bem e do mal. Keynes ganhou projeção maior não por ser melhor que Myrdal, mas por causa da língua inglesa. Num momento em que o capitalismo em crise parecia confirmar a profecia de Marx de um mundo comunista, Myrdal, como Keynes, ofereceu uma saída dentro do próprio modelo capitalista.

Myrdal defendeu epicamente que o Estado desse aos cidadãos educação e saúde de alta qualidade. Suas idéias triunfaram nos países nórdicos e explicam a vida do lixeiro do vídeo e a dominância na lista global na tecnologia da informação.

Há um índice engenhoso que compara o custo de vida nos países. Você vê o preço de um sanduíche do McDonald's em diversos locais e estabelece, a partir disso, comparações.
br /> Poderia ser criada um dia uma métrica de felicidade que se baseasse nos lixeiros do mundo. Você entrevista um número representativo de lixeiros no mundo e depois mede os resultados. Um país com lixeiros como este dinamarquês do vídeo não tem como não ser feliz. Mesmo que, como é o caso dos países nórdicos, a temperatura seja fria como um bolchevique e cruel como um nazista e o sol seja remoto como um pai ausente.

Gostaria que Lula e quem o suceda olhassem para o lixeiro dinamarquês e dissessem: é assim que deve ser no Brasil.

terça-feira, 30 de março de 2010

Ode à Teresina


Pra mim chega
Vou-me embora pra Teresina
Quero logo tomar cajuína
Ver o abraço dos rios acontecer

Vou-me embora
Um anjo torto me aconselhou
E calor de novembro chegou
Não tenho mais tempo a perder

Aqui longe
Te procuro em cada esquina
Mas o frio logo me desatina
É difícil igual a você

Quando chegar vou andar pela beira do meu Parnaíba
Mas não sou boba, cabeça de cuia não vai me apanhar
Sapoti, manga rosa, cajú que bela vitamina
E bem na sombra de uma mangueira vou cochilar

Ah Teresina
Me espera que eu vou retornar
Ah Teresina
Bem sabes que és o meu lar

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Calor. calor, calor!


Algum teresinense, alguma vez em sua vida, já pensou que iria passar calor no Rio Grande do Sul? Bom, eu nunca pensei. Na minha ignorante cabeça existia uma estação do ano chamada verão, mas o calor dela só era "quente" quando relacionado ao frio do inverno gaúcho.
Que nada, 38 com sensação térmica de 44. Vento quente, água quente, cadeiras e tudo o que se pode tocar quente.
Mas que barbaridade tchê!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Vasculhando e-mails antigos...

MORAR EM TERESINA É:

- Morrer de calor de setembro a dezembro

- Curtir bandas de rock local que tocam em todos os lugares da cidade

- Ter o carro de ano ou semi-novo nem que falte dinheiro pro "de-comer"

- Ter um enorme contingente de mulher bonita em contraste com um batalhão
de "cabras" feios, baixinhos, gordos e sem pescoço

- Se esbaldar na extinta Micarina, festa onde uma vez por ano: MULHERES lindas e
recatadas liberam seu lado "pinço" e Homens fracos aproveitam esses dias
para passar o resto do ano se gabando, se achando "arrochadores de muié".

- Achar que Medicina e Direito são os melhores cursos do mundo

- Passar pra Direito e assistir filmes de tribunal.

- Se formar em Direito, ganhar uma merreca e continuar morando com os pais.

- Ir pra Recife e tomar vaga dos vestibulandos nativos.

- Querer ser de Fortaleza e repudiar o maranhense até a morte.

- Zoar com os parnaibanos, que, por não terem sua cidade como capital,
consolar-lhes com o título de "capital do Delta". (Mesmo sabendo que o
Delta está praticamente todo no Estado do Maranhão).

- Querer fazer uma viagem para fazer novas amizades e o dinheiro só dar
para ir a Luís Correia para terminar vendo as mesmas caras de Teresina que
acabaram tendo a mesma idéia.

- Ficar irado com qualquer notícia besta que satirize o Piauí a nível
nacional e ignorar a virtude do conveniente ditado: "Falem mal, mas falem
de mim".

- Se gabar pro resto do Brasil de que Teresina é uma das únicas capitais
planejadas do país e depois se questionar no silencio de sua intimidade:
"Mas, qual será mesmo a vantagem disso?"

- Se orgulhar do título de "Cidade Verde" e logo constatar que a maior
parte deste verde pertence a matagais de terrenos baldios espalhados pela
cidade que poderiam abrigar algum comércio ou empreendimento de valor
econômico dinâmico.

- Parar num boteco qualquer, abrir o porta-malas do carro pra ouvir
Chiclete-com-Banana ou Forró do Muído em ensurdecedor e incômodo volume com os
amigos e ficar conversando (ou melhor, gritando) mentiras pra contar
vantagem.

-Ganhar mil reais por mês e querer chamar os outros de "liso"

- Ir só para a S8 todas sextas-feiras, achar o máximo, e reclamar
depois que Teresina não tem opções para sair.

- É ir para uma festa, reclamar se não encontrar ninguém conhecido, e
reclamar se só tiverem as mesmas "caras".

- Ir para Luís Correia nas férias e fazer para os colegas as três perguntas
básicas: "tu chegou que dia?"; "tu tá aonde?" e "tu vai embora quando?"

- Saber quem acabou com quem, quem voltou com quem, quem começou, blah...
blah.... blah.... e nem ao menos conhecer as pessoas ou, só conhecendo de
vista.

- Conhecer todas as ruas da cidade saber onde tem lombada ou onde tem
buraco.

- Encarar formaturas de qualquer curso como point de saída, chegando ao
ponto de comprar senhas.

- Passar os carnavais em cidades do interior, pois o da cidade verde é uma
MERDA!

- Ver pessoas correndo, e até pagando para tirarem fotos; no intuito de
sair em jornais ou sites badalados.

- É ir a um restaurante novo todo dia durante três meses e depois
abandonar.

- É ver pessoas "provincianas" que não tem onde cair mortas, se recusarem a
dar um passeio num shopping sem um vestido longo, maquiagem e escovinha.

- É não ter PORRA nenhuma pra fazer no domingo, a não ser comer caranguejo !

Isso é Brasil!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

É feliz quem vive aqui? Ou lá?



Como será morar em um lugar onde você pode deixar seu bebê no carrinho, tomando um banho de sol na calçada enquanto você entra na mercearia para comprar algumas coisinhas, paga algumas contas no banco ou simplesmente senta para tomar um café? É, os pais dinamarqueses já ouviram falar em roubo de crianças e pedofilia, mas é algo tãaaao distante... eles nem sabem em que noticiário de que país ouviram falar destas coisas.
escolher profissão pensando na grana que vão ter de retorno depois... que absurdo! Os dinamarqueses trabalham no que gostam porque as diferenças salariais entre as profissões são muito pequenas para influenciarem na escolha.
"Bom, mas pra trabalharem no que gostam e receberem um bom salário eles devem trabalhar 20 horas por dia e mal devem ter tempo para os filhos e cônjuges".

Ok, ok, os invejosos (eu) diriam isto em um ataque de fúria por trabalharem no que não gostam só pra ganharem uma graninha a mains. Mas pelo contrário, por volta das 16:30h eles pegam suas bicicletas, saem do trabalho e vão ao mercado comprar comidinhas para o jantar do dia e para o café da manhã e o almoço EM FAMÍLIA.


"Uiiii, tanta perfeição... devem ser muito metidos e totalmente deprimidos, não dá pra ser perfeito assim."

Bom, vocês já devem imaginar que é outra lorota do invejoso. Em pesquisa feita por não sei quem (mas pelo visto muito séria) os dinamarqueses foram apontados como o povo mais feliz do mundo.
Algo em torno de 50% a 60% dos seus salários são revertidos em impostos e isso os deixa muito tranquilos porque com este dinheiro eles pagam um sistema de educação e de saúde de primeira qualidade. Com uma boa educação o país praticamente extingue a figura dos marginalizados, o que é fundamental para que os pais possam ter a tranquilidade de deixar seus bebês em segurança na porta de uma mercearia.

Os mais impacientes vão me perguntar porque eu não vou morar lá então. Estou certa?

Bom, na verdade eu queria que o MEU país fosse assim. Talvez eu nem tivesse competência para conseguir um lugarzinho lá na Dinamarca, mas mesmo que tivesse e que eu morasse lá eu teria vários sentimentos de pesar que talvez não coubesse citar agora.
Ah, antes que eu pense que tudo lá é lindo e maravilhoso: sei que deve existir algum defeito (eles devem ter os pés chatos) mas o que repito mil vezes que admiro é a baixíssima desigualdade social e a admirável (e consequente da desigualdade) capacidade do país poder fornecer ao cidadão as necessidades essenciais para uma vida digna e feliz.