Do Piauí ao Rio Grande do Sul podemos perceber vários “países” dentro de um só. Há diversidades de todas as espécies.
Peguei um ônibus em Teresina com destino a Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre. São três dias de uma viagem cansativa, porém bastante enriquecedora. Passar por sete estados brasileiros até alcançar a querência amada dos gaúchos, mesmo que rapidamente, mostrou-me que nada sei de Brasil, muito menos de gente.
Ainda no interior do Piauí vi a pobreza que vive o nosso povo, casinhas de barro cobertas com palha, crianças no meio da rua vendendo milho, castanha, laranja, algumas vezes seu corpo e sempre a infância. Os botecos, onde o ônibus parou para comermos, mal tinham luz para iluminar o restrito cardápio disponível. O sol sempre quente da região torna sofridos os semblantes dos moradores. A fala baixa e tímida mostra um piauiense que teme ser ouvido, visto ou simplesmente percebido.
Rodando um pouco mais cheguei ao Pernambuco, terra onde o calor vem acompanhado de muita alegria. Pessoas que falam alto, que querem ser notadas. Na primeira madrugada que passei na estrada entrou pernambucano que ganha a vida em São Paulo voltando pro trabalho. Esposa e filhos entram no ônibus pra se despedirem do seu provedor com muitos abraços. Uma despedida resignada, mas barulhenta termina com um “Deus os proteja” do pai que precisa se fazer ausente.
Na Bahia é só alegria. Perdoem-me a rima, mas é verdade. As paradas deste estado são todas padronizadas, e é só botar o pé numa que alguém vem com sorriso de orelha a orelha com um “pois não” bem devagar e esticado.
O vento começa ficar fresco. Já são mais de vinte e quatro horas na estrada. O grupo de motoristas que viaja nas poltronas atrás de mim já está se sentindo em casa e o barulho começa a incomodar. À noite roncos e cheiros nada agradáveis tentam tirar meu sono, mas o cansaço é maior e me faz dormir profundamente até acordar com um lindo nascer do sol já em Minas Gerais.
Na primeira parada mineira já consigo distinguir aquele sotaque “bonitim” e “apressadim” típico de Minas. A simpatia dos mineiros é acolhedora e faz com que, mesmo de passagem eu me sinta bem vinda. Os morros, antes raros, agora são comuns na paisagem de minha janela. O frio da noite já me faz vestir um casaco mais corpulento, que no Piauí, fica no armário a espera de uma viagem.
São Paulo é a próxima parada. Levamos mais de uma hora rodando dentro da capital até chegarmos à rodoviária. Neste meio tempo, o trânsito maluco e as construções de todos os tipos me chamam atenção de tal forma que não vi o tempo passar e só depois me dei conta do quanto rodamos dentro de uma cidade apenas.
Na rodoviária de São Paulo a pressa com que andam os paulistas já é visível , não tem jeito, é chavão, mas essa característica dos paulistas é mesmo muito marcante. A correria de uma grande metrópole me faz sentir culpada por estar sem fazer nada, mesmo quando na verdade eu estou em uma viajem de férias.
E como banho não faz mal a ninguém, paguei cinco "pila" por uma ducha quente na rodoviária. De alma e corpo lavados, segui viagem, já morta de cansaço para a minha terceira noite na estrada.
Parti de "Sampa" num ônibus mais luxuoso – poderosa São Paulo – com direito a todos o mimos que um leito pode ter. Apesar da tentação de passar a noite acordada e ver as estradas de dois dos mais lindos estados brasileiros (Paraná e Santa Catarina) o sono e o cansaço me venceram. Acordava apenas para um lanche irresistível nas sofisticadas paradas do sul do Brasil. A variedade de cores e sabores me deixou tonta. Senhor, pequei!
Seis horas da manhã olhei o relógio e cheguei à conclusão de que ele havia parado. Chequei e celular e vi que não. Eram mesmo seis horas. Percebi que o sol da região Sul do país é mais preguiçoso que o da região nordeste. Sete horas e nada de sol. As oito, vi alguma claridade, mas como chamar aquilo de “sol” quando àquilo que dou tal denominação, lá no meu Piauí, brilha tão mais forte?
Quando, enfim a claridade veio, comecei a ver casinhas coloridas, muito caprichosas, que facilmente identificam os três estados sulistas, marcadamente colonizados por europeus.
A chegada em Porto Alegre me trouxe alívio. Terra firme! Ao sair do ônibus sinto um vento gelado que traz uma sensação térmica de mais ou menos 5º graus. Barbaridade, são trinta graus a menos do que fazia em Teresina, três dias atrás quando parti de lá, tchê!
Viajar de ônibus num país de proporções continentais foi cansativo, mas me fez ter uma visão mais ampla do mundo e das pessoas. Me fez abrir os olhos (e voltar de avião hehehehe).
Uma outra história começa em Porto Alegre...
Um comentário:
Simplesmente amei!
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